Seja quando há um diagnóstico prévio de infertilidade ou quando não há explicações médicas, como lidar com o desejo de ser mãe e não conseguir realizar?
As pessoas ao redor, possivelmente com boas intenções, sugerem: seja positiva, faça uma dieta altamente restritiva, não se estresse, vigie seus pensamentos. Porém, situações de tristeza e frustração colocadas na gaveta e o excesso de rigidez e controle no cotidiano aumentam ainda mais o estresse.
Percebo muitas vezes um caminho solitário da mulher que tenta engravidar, entre consultas, exames e sugestões de fertilização, congelamento de óvulos e as mais diversas tecnologias atuais. Nem sempre o companheiro comparece nessa tarefa, compreende as orientações médicas ou se compromete a fazer uma tomada de decisão conjunta.
A sobrecarga de agendar consultas, realizar diversos exames e questionar diariamente qual a melhor escolha, conta como um fator a mais de estresse. O desgaste físico, emocional, financeiro e social muitas vezes impactam no relacionamento do casal.
Esse momento pode ser vivido como uma crise existencial, com grande ansiedade e um luto invisível por planos que não tem se concretizado como esperava. A verdade é que não há um botão de ligar ou desligar para gerar um bebê. O que temos na trilha da psicoterapia é a lida com as emoções, pois não olhar, não falar ou não nomear o que está acontecendo só faz aumentar o mal estar.
A psicoterapia é o lugar de dar vazão às expectativas e às frustrações, às possibilidades e à falta de garantias. É mergulhar profundamente na história de vida pessoal, no desejo de maternar, nos planos para o futuro. É lidar com os mistérios da vida, com a condição humana que se apresenta e com a construção de um caminho possível.

Ana Carolina Zacari é psicóloga formada pela PUC-SP, com formação em Psicologia Perinatal no Instituto Gerar e residência em Saúde da Mulher pela UNIFESP. Experiência no setor de Obstetrícia do Hospital São Paulo, especializado no atendimento de alto risco, e na Casa de Saúde da Mulher Domingos Delascio nos ambulatórios de abortamento de repetição, gemelares, prematuridade e malformação fetal. Realiza psicoterapia online e oferece supervisão aos psicólogos que desejam se dedicar no tema da perinatalidade.